segunda-feira, 28 de maio de 2018

EDUCAÇÃO NO ANTIGO E NO NOVO TESTAMENTO





INTRODUÇÃO
A educação como processo de formação do indivíduo existe bem antes da origem do povo hebreu (descendentes de Héber, semita – Gn 10.21,25).
Chaplin nos informa que sistemas primitivos de educação se desenvolveram já desde o terceiro milênio a.C. Há manuais de ensino que remontam até 2500 a.C. Na antiga Suméria havia numerosas escolas para escribas onde se ensinava religião, vida palaciana e negócios do estado[1].
Mais adiante, Champlin ressalta ainda que nas escolas da antiguidade, a relação entre professor e aluno, era vista como sendo uma relação entre pai e filho. Paralelos a esse tipo de sistema são encontrado em todo o Antigo Testamento, embora, as escolas formais (como a dos profetas) tenham sido posterior, ao período da monarquia.
Vejamos alguns exemplos:
· Samuel, desde pequeno foi educado sob a supervisão de Eli, o sacerdote.
· Havia uma classe de escribas em Israel, assim como no Egito.
· Moisés, foi educado no Egito, por sua mãe (Êx 2.9,10), e pelo estado (At 2.22).
· Mesmo no Israel (Judá) pós-exílio, haviam classes de educadores como os sacerdotes e escribas, todos versados na Lei (Ed 7.6,10; Ne 8.9,13).
Todo esse sistema havia entres os povos antigos (Babilônios, Sumérios, Egípcios) sacerdotes e escribas, responsáveis pela educação religiosa e moral do seu tempo.
 Nosso foco, é educação cristã, uma vez que começaremos pelo AT, as ideias de “cristã” é desconhecida, afinal, Cristo ainda não tinha sido revelado por meio da encarnação. Porém, a essência da educação cristã, é encontrada na educação do povo hebreu, uma vez que, tem origem em Deus.
Vejamos alguns conceitos que nortearão a nossa compreensão sobre o assunto:
1 – CONCEITUANDO EDUCAÇÃO
1.1.       Educação (geral ou secular): é o desenvolvimento e o cultivo sistemático das capacidades naturais, por meio do ensino e da prática. Inclui tanto o conhecimento teórico quanto a experiência prática. No desenvolvimento de habilidades diversas[2]. No seu sentido mais amplo, educação significa o meio em que os hábitos, costumes e valores de uma comunidade são transferidos de uma geração para a geração seguinte.
1.2.       Educação Religiosa: Como o próprio nome sugere, Ensino Religioso é o ensino da religião, ou seja, o ensinamento dos dogmas e doutrinas de dada orientação religiosa. O ensino religioso consiste em uma disciplina da educação básica brasileira, onde seu objetivo principal é propor reflexões sobre fundamentos, costumes e valores das várias religiões existentes na sociedade.
1.3.       Educação Cristã: Pode-se defini-la como sendo a educação segundo Cristo. E para entendermos os fundamentos da educação segundo Cristo, precisamos atentar para outros conceitos:

a)        É um processo de ensino e aprendizado baseado na Bíblia, no poder do Espírito Santo (centrado em Cristo).
b)       É a recriação e o desenvolvimento do verdadeiro relacionamento entre Deus e o homem, o homem com os outros seres humanos, e o ser humano e o universo.
c)        É o processo divinamente instigado e humanamente cooperativo por meio do qual as pessoas crescem e se desenvolvem na vida, ou seja, no conhecimento piedoso, na fé, na esperança e no amor em Cristo[3].
Portanto, a educação cristã é especificamente a educação fundamentada na Bíblia Sagrada. Cremos que ela é a Palavra de Deus, única revelação escrita de Deus dada pelo Espírito Santo, escrita para a humanidade e que o Senhor Jesus Cristo chamou as Escrituras Sagradas de a “Palavra de Deus” (Mc 7.13), e que os livros da Bíblia foram produzidos sob inspiração divina[4].
Crendo assim, podemos encontrar nas divisões da Bíblia (Antigo e Novo Testamento) os objetivos fundamentais da educação cristã.
2 – OS OBJETIVOS ESPECÍFICOS DA EDUCAÇÃO BÍBLICA
Na educação secular, se ensina para ter (in) formação, na educação bíblica cristã, se ensina para ser cristão (parecido, conforme Cristo. Para isto, apresentamos três objetivos básicos dessa forma de educar:
3.1.  O primeiro é informar: tem a ver com conteúdo a ser transmitido.
3.2.  O segundo é formar: tem a ver com o caráter, resultado do conteúdo assimilado.
3.3.  O terceiro é transformar: Aqui tem a ver com mudança percebida, sentida, avaliada positivamente. Se o informar é início, o formar é meio e o transformar fim ou produto final.
A metamorfose só acontece a partir da informação e da formação. As pessoas são transfiguradas pelo conhecimento experimentado ao longo da vida. Sabemos que a mudança deve ser sempre avaliada e aperfeiçoada. O produto da informação e da formação nunca é acabado, mas sempre aperfeiçoado. O caráter de Cristo a partir do ensino da Palavra vai sendo formado trazendo transformação do ser cristão[5].
3 – A EDUCAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO
Podemos perceber claramente os objetivos acima ao longo de todo o AT. Toda informação dada por Deus ou por que ele designa, visa a formação do caráter do ouvinte, para que este, seja conformado (transformado) segundo a vontade divina.
No Éden, mesmo em um estado de perfeição natural, o primeiro casal não foi criado com todo o conhecimento relacionado à Deus, sendo Ele (Deus) incompreensível na sua totalidade. Essa limitação de conhecimento não configurava um defeito de criação, mas, uma necessidade natural de crescimento constante. Muitas foram as informações recebidas por Deus:
·      A ordem para comer de toda árvore do jardim, exceto a do conhecimento do bem e do mal (Gn 2.16,17).
·      A liberdade de nomear todos os animais (Gn 2.19).
·      Até então, o homem não conhecia o prazer de uma companhia, até que se depara com a mulher, dada por Deus (Gn 2.18,23).
Pazmiño (2008, p. 135) observa que, o ensino do Antigo Testamento incluía instrução e admoestação. A instrução envolvia a informação das verdades e exigências de Deus às pessoas; a admoestação era desafiar as pessoas quanto a seu modo de viver. O propósito da educação nos relatos do Antigo testamento era de santidade e transformação. As pessoas deveriam ser treinadas no caminho de Deus e o foco era no caráter piedoso e na sabedoria que resultariam em ação moral.
O principal contexto da educação era o lar, e os pais eram os responsáveis por instruir os filhos na lei, conduzi-los ao casamento e ensinar-lhes um ofício.
·      Deus foi o primeiro a ensinar seus filhos Adão e Eva o ofício de cuidar da terra (Gn 2.15,18), e a prática do sacrifício para perdão de pecados (Gn 3.21).

·      Adão e Eva ensinaram um ofício aos seus filhos, Abel era pastor de ovelhas e Caim, lavrador (Gn 4.2), e certamente, os ensinaram a prática de sacrifícios para remissão de pecados (Gn 4.3-7).

·      Mais adiantes, vemos os descendentes de Caim desenvolvendo habilidades específicas como;

ü Jabal, pai de todos os que habitam em tendas e possuem gado (Gn 4.20).
ü Jubal, pai de todos os que tocam harpa e flauta (Gn 4.21).
ü Tubalcaim, artífice de todo instrumento cortante, de bronze e de ferro (Gn 4.22).

·      A partir de Enos, filho de Sete, percebemos um retorno à prática da adoração, negligenciada pelos descendentes de Caim, como a prática de sacrifícios, que veio a ser praticada como parte da “invocação ao Senhor” (Gn 4.26). Dessa linhagem, surgem homem piedosos como Enoque, Metusalém, Lameque e Noé.
Por uma questão de espaço e tempo, todo o AT contém vastas informações a respeito do sistema educacional entre os hebreus. Uma informação valiosa é o processo de desenvolvimento dos professores ao longo do tempo:
Em todo o Pentateuco a responsabilidade de educar está sobre os pais, o ambiente é o lar e o conteúdo é a Lei.
Nos Históricos (Josué à Ester): a educação era mantida pelas narrativas dos feitos salvíficos de Deus na história do seu povo. Atos salvíficos, quando o povo obedecia, e atos disciplinas, resultantes da desobediência da nação.
Na Poesia ou Literatura de Sabedoria (Jó à Cânticos): algumas pessoas eram dotadas por Deus com o dom da sabedoria, que tinham o propósito de aconselhar visando uma vida bem sucedida. A sabedoria bíblica é tanto religiosa como prática, e provém do temor do Senhor (Jó 28.28; Sl 11.10; Pv. 1.7; 9.10)[6].
Na profecia (Isaías à Malaquias): os profetas eram educadores sociais de seus tempos que chamavam o povo, seus líderes e as nações, a prestar contas de seus caminhos. Expressavam a paixão de Deus por justiça e retidão na terra. A tradição profética sugere a necessidade de educadores cristãos enfrentarem as implicações sociais, políticas e econômicas dos compromissos de fé[7].
Em Deuteronômio temos o padrão de educação que permeia todas as épocas do Antigo Testamento:
Estes, pois, são os mandamentos, os estatutos e os juízos que mandou o SENHOR vosso Deus para ensinar-vos, para que os cumprísseis na terra a que passais a possuir; Para que temas ao Senhor teu Deus, e guardes todos os seus estatutos e mandamentos, que eu te ordeno, tu, e teu filho, e o filho de teu filho, todos os dias da tua vida, e que teus dias sejam prolongados. (Dt 6.1,2 – ACF)
Somente nesses dois versos encontramos o conteúdo, o professor, o objetivo, o aluno, o ambiente e o tempo (duração) do ensino:

EDUCAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO (Foco sobre os agentes educativos)

POVO/NAÇÃO
PROFETA
SACERDOTE
SÁBIO
ESCRIBA-MESTRE/RABINO

PROPÓSITO
Libertação Popular
Realização da libertação
Transmissão da tradição
Uma vida melhor
Interpretação das Sagradas ‘Escrituras (Ed 7.6,10)
CONTEÚDO
Eventos históricos
Perspectivas históricas antecipatórias
Práticas religiosas
Leis
Conselhos para a vida diária
Comentários teológicos
MÉTODO
Memória
Cultura popular
Palavra
Atos simbólicos
A Torá: celebração, transmissão, explicação e aplicação
Sabedoria popular
Instrução
INSTITUIÇÃO
Nação
Comunidade
Escolas de profetas
Templo
Ocasionalmente, a corte do rei, rainha
Sinagoga

5 – A EDUCAÇÃO NO NOVO TESTAMENTO
No NT temos um método divino mais valioso de ensino, o próprio Deus encarnado se torna o exemplo visível de “como se faz para ser”. O apóstolo João enfatiza esta verdade ao observar que: “o Verbo  se  fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai.” (Jo 1.14).     
Na vocação dos 12 apóstolos, Marcos (3.13-15) nos apresenta alguns detalhes importantes no processo de educação destes:
· Ambiente de ensino: o monte.
· Critério do chamamento: os que ele mesmo quis.
· Método de ensino: estando (aprenderem) com ele.
· Propósito do chamamento: exercer autoridade.
A autoridade de quem ensina exerce um papel importante na vida de quem ouve. Jesus deu aos apóstolos, a autoridade que ele mesmo exercia quando ensinava. Ao findar o sermão da Montanha (Mt 5 – 7) tratando sobre inúmeros assuntos relacionados à vida segundo Cristo, o resultado foi que: “Quando Jesus acabou de proferir estas palavras, estavam as multidões maravilhadas da sua doutrina; porque eles as ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas” (Mt 7.28,29).
Foi com essa mesma autoridade que os apóstolos deram prosseguimento à Igreja de Cristo ensinando a ela, o que de Cristo haviam aprendido.
João fez uso dessa autoridade ao informar que Jesus havia feito muitos outros milagres “diante dos discípulos” com o objetivo de levar os ouvintes a ‘crerem, e com isto, terem vida eterna (Jo 20.30,31).
Pedro, com esta autoridade tem um papel importante no livro de Atos:
· Primeiro “levantou-se Pedro no meio dos irmãos” para sugerir a substituição de Judas. Porém, esta substituição tinha um critério, o substituto deveria estar os acompanhando todo o tempo, desde que jesus estava entre eles (At 1.15,21).
· Segundo “se levantou Pedro, com os onze” para defender a causa do Pentecostes, fundamentado nas Escrituras (Antigo Testamento) levou quase “três mil pessoas” à conversão (At 2.14-36).
· Terceiro “Pedro e João” (At 3.1,4,11) com autoridade curam um coxo, discursam no Templo, e antes de serem presos, levam muitos dos que ouviram a palavra a aceitarem-na, “subindo o número de homens a quase cinco mil” (At 4.4).
Os primeiros cristãos iniciaram a vida cristã “perseverando na doutrina dos apóstolos”, que os faziam mudar de vida praticando a oração e o amor fraternal, resultando em admiração nas pessoas de fora, que não eram da igreja, que, devido à percepção da mudança de vida dos cristãos, passavam também a crer e serem salvos (At 42-47).
Temos em Paulo, um educador por excelência. Temos em todas as suas cartas, ensinos que visam corrigir os erros, exortar ao abandono do pecado e ao viver em santidade. Nas cartas pastorais (Timóteo e Tito) temos orientações de como serem educadores, pastores, mestre do rebanho de Cristo.
Nas Cartas Gerais (Tiago, Pedro, João, Judas) percebe-se o cuidado com a igreja e forma determinada em que condenam falsos ensinos vindos de falsos mestres.
Em Apocalipse, percebe-se p cuidado de Cristo com a sua igreja, representada pelas sete igrejas da Ásia, ao chama-las ao arrependimento, exortando-as a darem ouvidos ao que o Espírito, através de João (professor, pastor, mestre) diz às igrejas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Professores e alunos são chamados não serem conformados com o mundo, e isso, só é possível através da transformação resultante da renovação da mente.
Todos os personagens da Bíblia, a começar de adão, que optaram por serem conformados com o que é contrário ao que ensinou o Senhor, caíram em deformação moral e espiritual. Mas, ao longo da História, Deus tem preservado homens e mulheres leais ao conteúdo divino da educação que promove o crescimento espiritual, gerando a renovação da mente, culminando na transformação “conforme à imagem de seu Filho” (Rm 8.29). Essa transformação é gradual, e a educação cristã é um dos meios importantes que nos conduz ao estado original determinado por Deus.


[1] CHAMPLIN, R.N. Enciclopédia de Bíblia, teologia e filosofia. Vol.2, p.269. São Paulo: Hagnos, 2014.
[2] CHAMPLIN, 2014, p.268.
[3] Definições extraídas de: PAZMIÑO, Robert. Temas fundamentais da educação cristã. São Paulo: Cultura Cristã, 2008, p.88-9.
[4] CGADB. Declaração de Fé das Assembleias de Deus no Brasil. Rio de janeiro: CPAD, 2017, p.25.
[6] PAZMIÑO, 2008, p. 30-1.
[7] PAZMIÑO, 2008, p. 32-3.